Há plantas que purificam o olhar. Outras, o ambiente. E algumas — como a Jiboia (Epipremnum aureum) — fazem as duas coisas ao mesmo tempo, sem pressa, sem alarde. Elas sobem, caem, se arrastam pelas estantes e paredes como quem apenas observa o mundo. Mas ali, na sua calma fotossíntese, estão fazendo algo grandioso: limpando o ar que respiramos.
Neste artigo, o Retalhos Verdes convida você a olhar de novo para uma planta comum, mas extraordinária. A jiboia, que por muito tempo enfeitou varandas, cozinhas e escritórios, é também uma aliada silenciosa contra toxinas invisíveis — e um lembrete de que a natureza cuida, mesmo quando ninguém percebe.

Um Estudo Que Mudou a Relação Entre Plantas e Espaços
Em 1989, a NASA, agência espacial norte-americana, publicou uma pesquisa que revolucionou o modo como vemos as plantas ornamentais em ambientes internos. O estudo, chamado “Interior Landscape Plants for Indoor Air Pollution Abatement”, investigou a capacidade de certas plantas de remover poluentes tóxicos do ar — especialmente em ambientes fechados e climatizados, como estações espaciais e escritórios.
Entre as plantas analisadas, a Jiboia (Epipremnum aureum) mostrou-se notável:
🌿 Capaz de remover até 73% de compostos cancerígenos do ar em 24 horas, sob condições controladas.
O Que a Jiboia Filtra do Ar?
A jiboia é eficiente na filtragem de compostos orgânicos voláteis (VOCs), amplamente presentes em produtos cotidianos. Esses poluentes são liberados de forma imperceptível por objetos e materiais comuns — e, mesmo em pequenas quantidades, são considerados perigosos à saúde.
Substâncias que a jiboia consegue remover:
- Formaldeído
Presente em móveis de MDF, tecidos, papel, cosméticos, produtos de limpeza - Benzeno
Encontrado em tintas, solventes, plásticos, fumaça de cigarro - Tricloroetileno
Comum em produtos de limpeza, adesivos, colas e removedores
Essas substâncias, segundo a própria Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), estão associadas a riscos respiratórios, reações alérgicas e potencial cancerígeno em exposições contínuas.
Veja também: Suculentas Medicinais: Beleza, Cuidado e Conhecimento Ancestral
Por Que Isso Importa?
Porque o ar que respiramos dentro de casa nem sempre é limpo.
Porque vivemos em espaços fechados, cheios de materiais sintéticos, ventilação mecânica, perfumes artificiais e resíduos invisíveis. E porque a jiboia, ao seu modo, ajuda a devolver leveza ao ambiente — uma folha por vez.
Ao cultivar jiboias, estamos também nos reconectando com o que é orgânico, filtrante, vivo. Respirar ao lado de uma planta dessas não é só estético: é terapêutico.
Como Cultivar uma Jiboia Saudável
Parte do encanto da jiboia está na sua facilidade de cuidado. Ela é resistente, versátil e se adapta a quase todos os cantos.
Luz
- Luz indireta abundante é ideal
- Tolera meia-sombra e até luz artificial
- Em luz intensa, as folhas ficam mais vibrantes e variegadas
Rega
- Regue quando o solo estiver seco na superfície
- Evite encharcamento: excesso de água apodrece as raízes
- No inverno, regue com menos frequência
Substrato
- Solo leve e drenável: terra vegetal + areia + húmus
- Boa aeração ajuda no crescimento
Poda
- Pode ser podada para estimular ramificação
- As pontas cortadas podem ser propagadas facilmente em água
Toxicidade
- A jiboia é tóxica para pets se ingerida — mantenha fora do alcance de animais domésticos
Como Usar a Jiboia na Decoração e Purificação
Por ser uma planta pendente, a jiboia funciona como elemento vertical e fluido nos ambientes.
Ela pode:
- Ser pendurada em vasos suspensos
- Trepadeiras em painéis ou suportes de parede
- Cair suavemente de prateleiras ou estantes
- Ser cultivada em água por longos períodos
Além disso, a NASA recomenda pelo menos uma planta purificadora a cada 9 m² de ambiente fechado para efeito significativo. Ou seja: mais uma razão para ter várias jiboias em casa.
Leia também: Como Evitar Que a Variegatação Se Perca nas Suculentas
A Planta Que Fica e Cuida
A jiboia não precisa de flores para encantar. Nem de formas exuberantes.
Ela se espalha com elegância, como quem cobre com verde o que a gente não vê. E enquanto vive — quieta, em vasos simples ou copos improvisados — ela filtra o que o mundo joga no ar.
Ela é uma planta que limpa sem parecer limpeza. Cuida sem dizer que está cuidando.
É, talvez, a tradução botânica do amor discreto.
Conclusão
A jiboia é mais que uma planta decorativa: é uma aliada silenciosa da saúde e da presença.
Num tempo em que o excesso está em tudo — no ar, nos sons, nas telas — ela nos devolve o que quase esquecemos: o valor do invisível. Do simples. Do que purifica em silêncio.
Cultivar uma jiboia é cultivar ar. É respirar melhor. E lembrar que nem todo cuidado precisa ser visto. Alguns se notam apenas quando falta.
Última folha
Ela não faz barulho. Mas limpa o ar. Não exige espaço, mas ocupa paredes. Cresce devagar, mas transforma o ambiente. A jiboia é assim: uma planta que filtra o invisível — e nos convida a fazer o mesmo.
Com folhas pequenas e sonhos grandes,
dall.conecta